Stand de Tiros do Leme, na atual Júlio de Noronha |
O tiro ao alvo já foi um dos esportes mais preferidos no Rio de Janeiro. Um dos primeiros registros de um stand ou clube de tiros como se chamavam, nos levam ao ano de 1890. A Companhia Federal de Construções que funcionava na Rua 7 de setembro, 37,no Centro da Cidade, começava a desenhar a estrutura de um clube onde os sócios pagariam um valor único ou mensalidades que lhe dariam acesso a espaço de tiro ao alvo, esgrima, ginástica, bilhares, competições esportivas e grandes bailes. No Rio de Janeiro ainda se formando, dá para imaginar que esse tipo de estabelecimento fez o maior sucesso. Provas e grandes competições aconteciam na Quinta da Boa Vista. Munições eram anunciadas em jornais e revistas.
A "paixão" pelo tiro tinha uma razão de ser. Era tempo de proclamação da República. Armas de Guerra, Prática de tiros e as salvas de artilharia eram algo normal aqui no Brasil e em outros países. Na Argentina de 1895, já existia o Tiro Federal Argentino. Ele contava com 5mil sócios .O stand ficava a 35 minutos da capital argentina, ocupava terreno de 100 metros por mil de largura. Tinha oficinas, depósito para munições, café e cozinha. O Tiro argentino tinha barreira de tiro com grade de madeira, classificava os alvos por tipo de arma, e tinha pára-balas. Eram grandes placas de ferro que atravessavam todo o campo de tiro . Os associados não podiam usar armas com pólvora preta. A munição tinha trajetória curva e poderia causar problemas. Enquanto na Argentina era assim, nem todos os clubes de tiros fundados nos bairros cariocas tinham medidas rigorosas de segurança.
Stand de Tiros no Leme |
Teve bairro que disse "não" para Stand de tiros
Ipanema, Centro( Passeio Público) Lagoa, Pavuna, Niterói, São Cristóvão , Leme, Tijuca, Brás de Pina, Laranjeiras foram alguns dos bairros do Rio de Janeiro que receberam stands para tiros. No começo dos anos de 1900, eles pareciam se multiplicar. Na Pavuna, já aconteciam competições com corrida e prova de tiros com atletas disparando de joelhos e deitados. E tinha premiação! Eram medalhas de Ouro e Prata com retrato do Marechal Hermes da Fonseca. Mas nem todos os bairros receberam de bom grado esse novo tipo de estabelecimento. No Leme, zona sul do Rio, os moradores disseram "não" para a atividade.
Inauguração Stand de Tiros do Leme, 1921, Fonte Jornal O Paiz |
No ano de 1910, já havia exercícios de tiro no "stand" da praça do Leme. A direção era do Tenente Instrutor, Mário Barbedo e a iniciativa da Sociedade de Tiro do Leme, que tinha sede na Avenida Mem de Sá, na Lapa. O número de sócios não parava de crescer e já se fazia até concurso de fuzil no chamado Stand de Marechal Hermes, mas faltava segurança. Cápsulas deflagradas eram constantemente achadas ao chão e muitos moradores temiam ser atingidos. Sem a devida proteção e esquema de segurança apropriados, o stand da Sociedade de Tiros causava pânico. Moradores do bairro temiam ser atingidos por uma bala. O Stand ficava muito próximo ao ponto final da estação de bondes da Companhia Jardim Botânico. A movimentação de pessoas - entre moradores e passageiros - era grande. A possibilidade de acidentes era bem real. Além da estação de bondes, o Stand ficava próximo ao Bar do Leme que era um dos points de 1912.Todo esse comércio acontecia no Largo do Forte,que hoje é a Praça Júlio de Noronha. O bar oferecia grandes jantares e recepções para até 200 talheres e atendia principalmente os sócios e convidados. Tudo acontecia no estabelecimento.
"Era comum ter bebedeira, brigas e até casos de gente baleada."
Apesar da rejeição o Stand era um sucesso e gerava boas vendas para o Bar. Afinal, todos queriam vir ao Leme. Onde além do stand poderiam fazer exercícios militares na praia que era deserta. O lucro certo fez com que o Botafogo Futebol Clube pedisse ao Ministério da Guerra para administrar o "stand" do Leme. O pedido levava em conta o fato Fluminense Futebol Clube ter conseguido concessão para criar um stand de tiros no terreno existente entre o Clube e o Palácio Guanabara.
Os tiros no Rio de Janeiro eram aprovados pelo Ministério da Guerra
Apesar do Não de muitos moradores, o Ministério da Guerra dizia sim para as construções e manutenção dos stands de tiros. Toda a prática de tiros bem como a construção dos stands dependia de autorização do Ministério da Guerra que também se responsabilizava em nomear instrutores e fornecer armamentos aos estabelecimentos que eram considerados de instrução militar e equiparados às escolas
Durante anos, os stands de tiros brilharam na Mídia brasileira. O Stand do Fluminense Futebol Clube foi um dos que mais se destacou com provas, eventos e até sediando a Assembleia de Fundação da Federação Brasileira de Tiros e o Campeonato Carioca. No Leme, a situação deu melhorada a partir de 1921, com a inauguração do stand de tiros número 5, no Forte do Vigia. As obras trouxeram melhorias e um grande concurso foi organizado para festejar a inauguração . Os tiros que acontecia em "stand" na praça passaram acontecer em stand no Forte do Vigia, atual Forte Duque de Caxias.
Mais de 150 anos se passaram desde os primeiros registros de um stand de tiros e esse assunto ainda não é uma unanimidade. Enquanto alguns defendem o uso de armas de fogo como forma de aumentar a segurança, outros são rigorosamente contrários e acreditam que estimulam a violência.
Os Clubes de tiros desportivos ainda existem pelo País , e o Brasil continua sendo o celeiro de grandes campeões no tiro ao alvo .